sexta-feira, 5 de março de 2010

Nem Gilberto Freire, reedição

Tive que rever o texto publicado em março deste ano para poder re-refletir sobre o previsto e o ocorrido, passadas as eleições. Vale, para mim mesmo, uma releitura, uma nova visão. Eis o texto passado:...

Por que Lula escolheu uma mulher para lhe suceder ? Esta pergunta que fiz a mim mesmo, tenta encontrar algumas respostas e quase todas as tentativas fogem do campo político. Tentei também perguntar a outras mulheres e sinceramente não tive nenhuma resposta que me convencesse que estas teriam alguma pista sobre a verdadeira origem.
Que existem nos quadros do governo nomes de extrema competência e com maior exposição e até carisma, não tanto quanto o Metalúrgico, é inegável. Que havia nomes que além de competentes dariam menos trabalho para se propagandizar, também é verdade. Afinal por que escolher um nome que, apesar de sua comprovada competência, está dando um trabalho danado para se tornar popular ?
Para não perder uma oportunidade histórica de quebrar um paradigma. Esta é a única resposta que me ocorre. Não de quebar um paradigma, mas vários. E é este exercício de reflexão e atitude que Lula está obrigando a toda nação a fazer.
Temos de ter em mente que estivemos muito tempo vivendo uma mentira, vivendo na ilha da fantasia do neoliberalismo, onde a riqueza das nações nascia do nada, como se isto fosse possível. Temos que ter em mente que nem os construtores desta grande mentira, ou miragem diriam alguns mais contritos, tinham memória suficiente para sustentá-la durante tanto tempo, tampouco as nações poderiam sustentá-la sem corroer os fundamentos de suas economias. Tem até uma frase de Lincoln que diz que "nenhum mentiroso tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso de êxito". Estes últimos oito anos foram suficientes para mudar os fundamentos da economia, ou melhor, para reforçá-los, e então expor a mentira neo-boba, como dizia o ex, o sociólogo. Foram suficientes estes oito anos para por a casa em ordem em termos materiais. Mas foram suficientes para resgatar a nossa auto-estima na medida do necessário à aspiração a um futuro mais digno, do que daqueles subservientes lacaios de colarinho branco ?
Para tanto será necessário uma quebra de paradigmas em larga escala. Para tanto temos que olhar para dentro da alma do povo e de lá extirpar valores arcaicos e provincianos. Ser comandado por uma mulher: veja como soa esta frase no inconsciente coletivo. Não tenhamos dúvida que na maioria dos inconscientes soa como captulação, soa como uma derrota.
Ao quebrarmos o paradigma de comando apenas masculino estaremos abrindo espaço para outros avanços e acelerando a evolução para estágios mais maduros de socialização.
Entendo também que a Dona Dilma traz consigo ainda um ícone insuplantável, incômodo para muitos ainda.
Mas é esta mesma semiologia do valente, do intrépido, do rigoroso, que a faz transitar desde a rejeição até a liderança combativa; retira-se o complexo de Amélia e se entroniza Joana D´Arc na alma dos brasileiros.
Lula, que mais do que Presidente foi o nervo exposto da grande massa de excluídos, soube, por que lá vivia, fazer nascer de dentro da alma a aspiração e a fé num futuro mais digno para os seus descendentes, outrora inexoravelmente condenados à exclusão, à miséria, à fome, à marginalidade, ao sub-emprego.
Desta brutal sensibilidade soube captar, ou construir, um símbolo que jamais se tentou ver; que Gilberto Freire tentara em vão.
Mas não basta esta visão profética, não basta esta sensibilidade extremada, se não tivermos a capacidade de convivência com os diferentes. Convivência interna e externa. Convivência com nossos vizinhos andinos e platinos. Temos de dar uma lição de evolução e de democracia, que tanto faltou na nossa história. Mas então repito uma frase que João Paulo II disse em Vitória: "A democracia precisa da virtude, se não quiser ir contra tudo o que pretende defender e estimular".
Se Lula enxergou em Dilma uma virtude, pois ela nãopoderá ter todas, esta foi a da coragem e da honestidade de propósito.
Pois vamos concluindo perguntar: - Alguém pensou que algum dia teríamos uma mulher canditada a Presidente da República ? Nem Gilberto Freire.

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