sábado, 6 de março de 2010

Desenvolver sistema, lembra Gilberto Gil.

Há alguns anos me aventurei a escrever um livro que denominei "A árvore da acácia" com o subtítulo "Aaron Hakodesh". O nome advinha de uma citação que coloquei em um capítulo onde descrevi a minha emoção de descrobrir a primeira citação a uma "Bill of Material", que queria inserir no contexto dos sistemas de cálculo de necessidade industrais, o MRP (Material Requirements Planning" lá pelos anos 70, o MRP II (Manufacturing Resources Planning), acróstico do primeiro, mas na realidade um avanço metodológico considerável pressionado pelos avanços tecnológicos e pela divulgação dos métodos japoneses Kan-Ban, JIT (just-in-time) e outros. A citação era transcrita do Livro do Êxodo 38:1 e esta descrevia o material, as medidas, a forma de fazer e a sua utilidade. Comparando com os requisitos de dados dos sistemas que estavam compondo aquele capítulo, não restava dúvida, lá estava o princípio do "Bill-of-Material". Estava lá na Bíblia, pra qualquer um ver; não era invenção minha.

A comparação era de certa forma um ato de fé, pois não tivesse eu dado nenhuma importância aquela leitura não seria esta referenciada. Mas não foi uma fé virtuosa apenas que me levou a fazer tal analogia. Foi um episódio absolutamente fortuito: _ Certa vez vendo um programa de tv chamado "A vida secreta das plantas" apresentado pelo naturalista inglês Sir David Attenborough, achei o elo que faltava entre o princípio dos sistemas industriais e dos elementos que as minhas pífias capacidades de exegese. Dizia Attenborough, da disseminação das sementes da árvore de acácia, mencionada no texto bíblico, que era feita pelos elefantes africanos, que comiam as sementes da árvore e a liberavam, após o imenso trato intestinal e deixavam-na de volta à natureza a muitos quilômetros depois, ainda regando-as com generosa dose de amônia, fazendo desta árvore a mais comum, a mais fácil de ser encontrada.Um sistema complexo ecológico interagindo com um complexo mítico e derivando em uma visão sistêmica industrial. (Daria para mais conversas...)

Agora vinha o pensamento e o questionamento: - A madeira da árvore que iria construir a arca era a menos nobre, a mais comum, e iria ter junto com a forração de ouro, nobilíssima, a função mais sagrada.

A mais simples ideia de exegese diria, que é mesmo nos simples que se aporá a forração apropriada para a missão mais nobre. Os demais desdobramentos exegetas não valem aqui serem mencionados, mas ficou o princípio básico que fé e razão não andam separadas ( a madeira é simplória, a forração é nobre e ambas andam juntas na mesma missão).

Tais desdobramentos levaram-me a tratar outros aspectos da experiência de de construtor de sistemas computacionais, o meu humilde ganha-pão.

. Da experiência de se construir sistemas podemos antes de tudo ver a dificuldade de saber qual o sistema a ser construído.

.Primeiramente pergunte aos responsáveis qual o objetivo e para que servirá tal e qualquer sistema, desde a pequena até a grande organização, seja empresarial, seja governamental e terá as mais variadas respostas. Após esforço metodológico e horas de consultoria obterá então um razoável e suficiente consenso.

.Logo após, se perguntar para quem estará servindo o sistema, repetir-se-á o mesmo processo de consensualização, com horas de discussão e convencimento.

.Logo depois virá o como, e então repetir-se-á o mesmo processo entre os técnicos.

.Estabelecer o quando implantar é tarefa tão árdua ou mais, quanto as demais já mencionadas.

. E executar as tarefas, sem deixar que se desviem do que foi traçado após o esforço de definição do "qual", "para que", "como" e "quando" requer determinação e energia. Isto a literatura pouco fala, pois os autores, ou são por demais acadêmicos, ou não querem parecer capatazes.

Mas a realidade é sintetizada em uma única palavra: compromisso. Este advém da aplicação de regras morais e da fé.

Toda a literatura que já foi produzida desde os tempos do MRPdesde os anos 70, quando comecei a me aprofundar no tema, sempre indica como fator de sucesso o envolvimento da maior autoridade da empresa, como forma de fazer vencer diferenças de opinião, quando não de luta por prestígio e interesses pessoais. Pura verdade, mas até a maior autoridade terá de ter fé nos subordinados.

Várias frases jocosas já foram ditas, sobre a premiação dos que nada fizeram e o opróbio dos verdadeiros trabalhadores, etc... No entanto tais injustiças e desdobramentos são derivados da postura meramente profissional. Não basta, tem de haver garra no que se faz, tem que ter fé e absoluta vontade de servir. Caso contrário acaba-se vendo realmente injustiças e pior, insucesso.

Por maior que tenha sido o feito tecnológico, antes havia uma vontade e uma enorme fé. O discurso do Presidente Kennedy ao Senado em 25 de maio de 1961 foi a peça fundamental que fez o homem ir a Lua. Foi o discurso da vontade. Um preço altíssimo que só a fé poderia pagar. Ano que vem, nesta data, fazendo cinquenta anos, o mundo estará lembrando das suas palavras, mas ainda, alguns de nós, estaremos querendo construir sistemas por alguns trocados.

Temos competência, técnica, temos de buscar o impossível então.

Gilberto Gil cantava: Segura com fé eu vou, a fé não costuma faiá...

Tão primitivo, tão grandioso, tão vidente.

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