sexta-feira, 12 de março de 2010

Negros na Universidade

Não saberia como defender posições neste debate sobre cotas (quotas é pedantismo) na Universidade. Nem à favor, tampouco contra; pois vejo que se tornarmos fácil a solução do problema de inclusão social ( e ela não é ), estaremos postergando a escola pública de qualidade para todo brasileiro, independente de cor, credo, o que seja. A escola primária de qualidade tem de ser a base de nossa libertação. Mais do que a Universidade.
No entanto negar que estamos atrasados mesmo, vivendo ainda em uma era colonial, onde existem mentes que não querem que nada mude, que se mantenha a pasmaceira neo-colonial, neo-liberal, onde o "neo" é apenas um som, sem qualquer ligação com o "novo". Simplesmente significa uma nova forma de colonialismo. Então fico realmente na dúvida. Mas à proporção que o debate avança algumas posições vão aparecendo, algumas máscaras vão caindo. Lentamente, mas as coisas vão clareando. Por esta razão transcrevo um texto de Elio Gaspari, sobre a fala de um senador que muito revela o pensamento (?) de uma das posições. Ei-lo:

" O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.

Na quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte:"[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual".

O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.Gilberto Freyre escreveu o seguinte:

"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime".
"O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem."
"Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil, os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão."
Demóstenes Torres disse mais:

"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana".

Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.

No início do século 20 os escravos não eram o principal "item de exportação da economia africana". Àquela altura o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas. ELIO GASPARI"

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