domingo, 30 de maio de 2010

A Paz e o Carnaval

Por expressa ordem de meu amigo Carrilho, cujo tio sempre traz a paz a alma quando se escuta a sua milagrosa, maviosa e competentíssima flauta, o Altamiro, estou transcrevendo um e-mail que enviei já prestes a começar o Carnaval de 2010.
Mas hoje confesso que existe um motivo adicional, uma inspiração tardia e uma obrigação diante do assunto mais importante do momento: a Paz.
Lá vai o texto do "imei" (não escrevo mais e-mail, é muito complicado"

Paz e Carnaval

O Carnaval está aí e vejo nos jornais a “pop-star” Madonna na Lapa assistindo no Circo Voador, algo que sua cultura e seu país se esforçam por conseguir: a Paz.

Esta reflexão, em vésperas de Carnaval, me acode devido a dois pontos fundamentais. O primeiro que baseia o conceito e essência da Pacificação.
O segundo devido a vivência e a convivência numa cidade que, há muito enfeiada pela mancha social da favela, da pobreza, da miséria, do descaso da autoridade pública e, pior, pela desesperança, vem tendo na Pacificação o resgate de sua personalidade que também outrora fora cantada em verso, em sambe e nas crônicas da Cidade Maravilhosa.

Esta mudança, ainda que lenta, terá de ser sustentada pela vontade de seu povo, mas para tanto terá de racionalmente, e mais ainda emocionalmente, reconhecer que esta pacificação se fez a partir do compromisso com a Paz e do comportamento pacificador de quem cuida da Segurança.

Terá ainda de reconhecer que jamais a sua segurança, como indivíduo, como cidadão, independente da sua condição social, da sua condição econômica, da sua religião, da sua opção sexual, da sua cultura ou saber, foi tratada com o respeito com que hoje é tratada. Mas para que esta Paz seja duradoura teremos de reconhecer a intenção e a certeza do caminho e neste permanecer até que todos, todos, venham a ser cidadãos de pleno direito e destes venham a se orgulhar.

Mas também para isso teremos todos de nos pacificar e deixar de lado as nossas benditas diferenças ( que horror se fôssemos todos iguais ), começando pelo reconhecimento da melhoria na correção da conduta da coisa pública, que hoje é bem, bem mesmo, diferente do passado.

Diferentemente do samba do Zeca Pagodinho que falava do Delegado Chico Palha, que não prendia e que só batia, que não admitia nem samba, nem curimba, na sua jurisdição, vemos a Segurança verdadeira, pacificadora, humana, aplicada ao interesse de todos, independente se frequentam a igreja ou a curimba, se brancos ou negros. Falo isto como cidadão, morador nesta cidade, no bairro de Botafogo, onde lá está a comunidade do Santa Marta, que se obriga por dever à verdade ( a idade idosa também me obriga ) a testemunhar a melhoria da qualidade de vida da população e sobretudo da segurança devido a pacificação, palavra que hoje tem seu sentido resgatado e expandido.

É claro que ainda há muitos moradores que ainda não perceberam; mas o que fazer, nem sabem o nome do vizinho de dez anos do apartamento do lado. Não sei se por absoluto desligamento mesmo ou se conduzido pelo jornal ou pela televisão que, qual ácido, tudo corroe, tudo deforma. O fato é que cada vez mais, mais e mais pessoas percebem que a melhoria se deu, não pela ocupação por forças de segurança, mas pela ocupação pacífica, consciente, paciente, que, mesmo convivendo ainda com o comportamento ainda embrutecido da própria população beneficiada, vem fazendo da palavra Segurança um pressuposto da Paz e vice-versa.

Sabemos todos que o embrutecimento e a violência que se irrompeu na cidade nasceu do abandono e da pobreza, terreno fértil para instalação do comércio varejista do tráfico de drogas. Outras componentes ainda contribuíram nos últimos quarenta anos, componentes estas que tiveram no distanciamento social, na exclusão do outro, no preconceito social e racial, utilizando o Policial Militar como capitão do mato e que levaram a uma desvalorização social e política da sua corporação, chegando até a sua rejeição e não reconhecimento como Força Social útil. Sabemos que este processo de desvalorização, não começou apenas devido ao baixo soldo. Começou sim com a exclusão social, à começar pela própria exclusão social dos próprios cidadãos do contingente, cujas famílias conviviam, e ainda convivem em bairros pobres, com a marginalidade. O baixo soldo é consequência realimentadora deste processo que se iniciou há muitos anos, quando se entendia que a segurança do estado não era a segurança de seus cidadãos.

Por esta razão vejo que temos ,como cidadãos, todos, a obrigação de apoiar a Pacificação como meio e como fim. Temos a obrigação ética, religiosa, social, cívica e política de olhar para o nosso entorno. Temos que ter a esperteza e a obrigação de olhar e pacificar o meio, o entorno, antes que este se volte contra nós. Repetiria Ortega e Gazzet: “Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo”.

Mas todos estes escritos e esta falação é para lembrar uma marchinha de Carnaval dos meus tempos de rapaz, lá pelos anos 60, da lavra de Antônio dos Santos, que diz:

“Acorda Maria Bonita
Levanta vai fazer café
Que o dia já vem raiando
E a polícia já está de pé”.

Hoje, Maria Bonita é uma famosa (griffe de luxo) confecção em Botafogo que se beneficia da Pacificação.
A Polícia guarda o sono dos moradores da comunidade. E a esperança começa a voltar.

Outra marcha que ficou famosa, foi a do inesquecível Carlos Imperial, cuja família fundou um grande colégio no bairro, (o Colégio Imperial está lá até hoje), e que diz:

A mesma praça, o mesmo banco,
As mesmas flores, o mesmo jardim.
Tudo é igual mas estou triste,
Porque não tenho você perto de mim.

Hoje, um pouco diferente, a Praça ainda lá está, a Praça Corumbá, entre as Ruas Barão de Macaúbas, Francisco de Moura e São Clemente. As flores são as crianças brincando pacificamente na praça. O Jardim da Igreja Adventista lá está. Mas não há razão para tristeza, pois temos nossos irmãos cada vez mais próximos, cada vez mais cheios de esperança de um futuro melhor para seus filhos que não apenas o caminho do tráfico. Não poderia deixar passar o Carnaval, principalmente o do Bairro de Botafogo, sem que fizesse uma reflexão sobre o seu novo significado, construído a partir da força, por uma Força, para que se conseguisse a Paz.

E me despeço lembrando da saudosa Elizete Cardoso (que faleceu em Botafogo) que cantou do saudoso Ataulfo Alves, no Carnaval de 59, eu acho (a memória jã não é tão boa)

" Vai segue teu caminho
Que eu seguirei o meu
Se a saudade apertar
Morro de dor
mas não vou lhe procurar
Vai na Paz de Deus
Não devo impedir Sei que os olhos ….? (não lembro)
Vão te seguir.....?
Vai na paz de Deus"

Mas o Carnaval já está próximo e ….Ai, ai, ai ai, ai ai ai,está chegando a hora
O dia já vem raiando, meu bem, eu tenho que ir embora

Um abraço Carioca e Botafoquense a todo
s


Moral da história : "só pode conseguir a Paz quem a pratica"

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