sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Abaixo a Pedagogia, (uma mensagem aos pedagogos)

De eleições já falamos, cabe agora seguir com a educação e a segurança como tema; daí ter retirado este texto de algum escrito que já me parece antigo, mas que serve para inaugurarmos uma nova fase "Segurança e Educação", pois estas são produtos mútuos de civiliuzação. Espero que apreciem.
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O título aqui não se trata de uma manifestação revolucionária, jamais pude vê-lo em alguma passeata; seja em 1968 ou agora, seja em Paris ou Rio de Janeiro, ou São Paulo, ou Tókio. Mas não posso dizer que não se trata de um pensamento revolucionário, é sim. Mas de uma revolução que já vem se construindo em cima da antiga forma de ver a sociedade educadora, onde ministrar conhecimento, passava por transferir informação, ou dados e, dependendo da competência ou do bom humor do professor ou da professora, estimular a pensar, liberar as competências naturais sedimentadas por milhares de gerações, ainda que não tão letradas, mas que sofreram, erraram e aprenderam a sobreviver e a evoluir, e ainda instigar a curiosidade. Tal revolução vem ocorrendo desde o teclado do computador até o acesso a rede internet, onde muito se vê, muito se ouve, muito se comunica e muito se informa. Tudo em uma velocidade impossível de ser emulada pelo ensinante, esteja este em uma rica instituição de ensino das grandes capitais ou em uma remota escola rural, ou até em uma estação de trabalho coletiva na praça do vilarejo. A inclusão digital vem crescendo quase que de forma independente até da vontade daqueles que tem como missão instituí-la e mais ainda das pessoas ensinantes. Tudo isto por um único fato, é que na rede probabilística virtual, na web, o aprendizado se faz pela imitação das conexões neurais. Ela, a rede internet, imita as conexões neurais construídas por processos probabilísticos, fazendo então com que a construção do conhecimento, através da busca da informação, “googles” e outras formas, se faça por processos mais próximos ao do aprendente e plasticamente mais adequados, com isso de forma mais rápida e seletiva, sem ter que passar pela estranha epistemologia criada pelo ensinante. O que muito freqüentemente se faz de forma dolorosa, porque punitiva: aprendeu, muito bem, não aprendeu, zero. É preto ou branco. Sem espaços para novas tentativas, áreas cinzas, novas estratégias, novas abordagens. Afinal, como adequar um único processo ensinante para trinta (às vezes mais) diferentes seres humanos aprendentes fechados dentro de uma sala?

Gostaria até de repetir Dimantas[1], “não sou pedagogo”, mas aprendi com eles, o que fazer. Nem posso dizer que o que não aprendi foi por culpa deles, se não pela minha própria malandragem, diria Bezerra da Silva. Mas muito do que não consegui aprender pela forma tradicional, com ou sem esforço do ensinante e do aprendente, eu mesmo, consegui fazê-lo de forma rápida, talvez nem tanto consistente, através do que garimpei na internet nos sítios de livre busca e informação. Poderia citar um sem número de conceitos matemáticos, sociológicos, históricos que consegui capturar baseado apenas na curiosidade estimulada e favorecida pela enorme oferta de informação; comportamento muito semelhante aquele da fome diante de uma mesa farta e variada; a exposição tentadora do conhecimento, fácil de ser construído pela informação abundante e diferenciada, e em boa parte das vezes até inalcançável dado a imensidão das potenciais respostas, mas lá presente. A mente sabedora desta disponibilidade constrói então, por métodos naturais registrados em estratos vagais, uma forma heurística de busca, até satisfazer seu apetite, tal como faria o predador na busca pela sua presa. Aliás, como já o fizemos com sucesso há milhares e milhares de anos atrás; sendo bem sucedidos então, memorizamos a estratégia de busca que acabou se explicitando nos famosos e eficazes algoritmos dos “googles” e semelhantes. Entretanto ocorre que o aprendizado via máquina de busca, depende apenas da intencionalidade do aprendente. A máquina não faz o mínimo esforço em favor da intencionalidade, tampouco tem um compromisso explícito para este fim, apesar de implicitamente os criadores da tecnologia tivessem a intenção e motivação para fazê-lo. Aí então aparece a questão fundamental que deverá ser respondida pelos pedagogos: - será possível construir uma pedagogia distante da tecnologia? Esta questão está sendo colocada não como uma libelo acusatório. A pedagogia como saber estruturado não é passível de acusação ou de elogio, a pedagogia a que me refiro é aquela assumida pelos seus profissionais. Estes sim, terão de assumir cada vez mais a sua condição de ensinante intencional e não um veículo de informação para o aprendente. Cada vez mais esta posição de repassador de informação será assumida pelos sistemas eletrônicos. Seu engajamento na intencionalidade do aprendente terá de ser inteligente, técnica e ainda emocional, pois sem emoção perde para a máquina, como já tinha se observado desde a difusão da televisão. Certa época dava aula noturna em uma faculdade de administração e tive que sofrer a competição desigual com as moças maravilhosas da novela Roque Santeiro. Tive de me passar por Sinhozinho Malta para me engajar no emocional e percebi então que a competição tramava a meu favor; a acumulação de bens, o controle de inventário, a política de pessoal, o planejamento financeiro passavam então a ser os elementos que colocavam o personagem da novela como estímulo a resposta aprendente, pois a punição da nota pouco ou nada podia fazer contra os encantos das personagens e a imensa qualidade artística do elenco. O que estava escrito no Manual do Professor pouca valia tinha para garantir a intencionalidade do aprendente. Estabelecia-se ali, muito antes do advento da internet, uma complexa construção de uma pedagogia inclusiva, onde, não apenas a tecnologia, mas a arte, arquitetavam, em conluio, uma estratégia para vencer. Vencer o descaso, vencer o cansaço da aula noturna, vencer a distância que havia entre o “mundo acadêmico”, o mundo da nota, e o “mundo real”, o mundo de notas. Hoje esta experiência me serviu como base para alcançar a visão da complementaridade entre a “internet” e a “aula”, a complementaridade entre a pedagogia do “ensinante” e a pedagogia do “aprendente”, não mais restrita aos atores que se opõe; de um lado o que interpreta a teoria, e de outro, os que interpretam a realidade da prática. Aliás o fantástico Paulo Freire, mais do que pedagogo, visionário, assim via com décadas de antecedência[2]. Tivesse vivo, tenho certeza, já teria criado um jeito de enquadrar a internet em seus princípios pedagógicos: a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural[3].

a. Colaboração - a ação dialógica só se dá coletivamente, entre sujeitos, "ainda que tenham níveis distintos de função, portanto de responsabilidade, somente pode realizar-se na comunicação" (p.197);

b. União - a classe popular tem de estar unida e não dividida, pois significa "a união solidária entre si, implica esta união, indiscutivelmente, numa consciência de classe" (p.205);

c. Organização - "[...] é o momento altamente pedagógico, em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos, como um só corpo, buscam instaurar, com a transformação da realidade que os mediatiza" (p.211);

d. Síntese cultural - consiste "na ação histórica, se apresenta como instrumento de superação da própria cultura alienada e alienante". "[...] faz da realidade objeto de sua análise crítica" (p.p.214 -215).

(os grifos são meus)

Estes quatro elementos (colaboração, união, organização e síntese cultural) poderiam perfeitamente se servir da internet pois os atributos “comunicação”, “união solidária”, “realidade mediatizante” e “análise crítica” estão presentes na construção desta rede. Logo o pedagogo da atualidade terá a seu favor, não somente a receita de Paulo Freire mas também os recursos para aviá-la na intenção de curar este mal da educação que assola o país. Assim como não é a medicina que cura o doente mas sim o médico, não será a pedagogia que irá curar este mal, mas o pedagogo. Cabe a este se imbuir da missão, da intenção e da técnica, pois sem ela haverá apenas boas e desastrosas intenções; nem dá para transferir para a pedagogia as virtudes ou as falhas do aprendizado; inexoravelmente estará, sentado diante do teclado do computador, ligado na internet, e mesmo na sala de aula praticando os ideais do Mestre Freire:

o O amor ao mundo e aos homens como um ato de criação e recriação;

o A humildade, como qualidade compatível com o diálogo;

o A fé, como algo que se deve instaurar antes mesmo que o diálogo aconteça, pois o homem precisa ter fé no próprio homem. Não se trata aqui de um sentimento que fica no plano divinal, mas de um fundamento que creia no poder de criar e recriar, fazer e refazer, através da ação e reflexão;

o A esperança, que se caracteriza pela espera de algo que se luta;

o A confiança, como conseqüência óbvia do que se acredita enquanto se luta;

o A criticidade, que percebe a realidade como conflituosa, e inserida num contexto histórico que é dinâmico.

Estes ideais, não importa a natureza dos conflitos da sociedade, não importa quão avançada a tecnologia esteja, tão veloz a internet trafegue pelo mundo, tão eficaz sejam as máquinas de busca, serão eternos como o homem. A pedagogia terá de abraçá-los. Portanto posso dizer: Abaixo a pedagogia, viva o pedagogo.



[1] Hernani Dimantas é coordenador do Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária da Escola do Futuro - USP. Articulador do MetaReciclagem e editor do comunix. – ver Le Monde Diplomatique ( http://diplo.uol.com.br/ )

[2] De teoria, na verdade, precisamos nós. De teoria que implica uma inserção na realidade, num contato analítico com o existente, para comprová-lo, para vivê-lo e vivê-lo plenamente, praticamente. Neste sentido é que teorizar é contemplar. Não no sentido distorcido que lhe damos, de oposição à realidade [...] (Freire, 1979, p.93) .

[3] Freire, Paulo. Educação como prática da liberdade (1979), Paz e Terra. Rio de Janeiro
_______. Pedagogia do Oprimido. (1983). Paz e Terra. ( Coleção O Mundo, Hoje,v.21).

domingo, 21 de novembro de 2010

Será que vai dar tempo?

Até já entendo o que move a mídia a ainda manter o baixo nível que utilizou na campanha eleitoral: -"Temos de começar cedo, para que em 2014 não venhamos a morrer de vez".
Está mais do que óbvia a motivação, por não conseguir compreender a absoluta defasagem com os novos tempos. É como se um senhor de engenho aceitasse a formação universitária de um escravo; está absolutamente fora de sua capacidade de reflexão e sentimento. Assim está a nossa (fico até envergonhado de utilizar este pronome, mas é a verdade) imprensa, escrita, falada, televisada: absolutamente decadente, desmoralizada. Perdeu a vergonha.
Mas, como a grande massa já percebeu do que se trata, mesmo não podendo ou sabendo verbalizar, pois percebo no diálogo que mantenho todo dia pela manhã com trabalhadores, passageiros desembarcados na Central do Brasil (principal terminal ferroviário no Rio de Janeiro), cada vez mais fica a imprensa legada a cobrir crimes e assaltos e as novidades do futebol, e mostrar fotos de mulheres seminuas. Se restringe a esta pauta somente. O veneno que destila fica reservado aos lídimos representantes de uma classe social já perdida em seus conceitos de falsa moralidade e pobre de cultura; pobres pé-de-chinelo que ainda se vêem como protegidos do rei, nada mais do que neo-bobos, como bem disse o FHC, o ex, o sociólogo.
Porém ainda percebo, à direita e à esquerda também, discursos de deslumbrados com a velha cultura euro-cêntrica, que não atinaram com a quebra de paradígma: o Estado do povo, para o povo, não mais para os barões.
Não acredito que vão perceber esta mudança com facilidade; afinal foram séculos de domínio do Estado. Utilizarão esta mídia moralmente empobrecida sim, enquanto sobreviver, (pois esta vive de anunciantes que querem ter sua marca associada a casos de sucesso), o recurso da intriga e da mentira. Mas a decorrada é inevitável, à menos que acordem à tempo. Que andem rápido então, pois o novo Governo e os novos tempos serão implacáveis.
Dado ao estado de decadência moral em que se encontram pergunto: Será que vai dar tempo?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Nem Gilberto Freire, reedição

Nem Gilberto Freire, reedição

Tive que rever o texto publicado em março deste ano para poder re-refletir sobre o previsto e o ocorrido, passadas as eleições. Vale, para mim mesmo, uma releitura, uma nova visão. Eis o texto passado:...

Por que Lula escolheu uma mulher para lhe suceder ? Esta pergunta que fiz a mim mesmo, tenta encontrar algumas respostas e quase todas as tentativas fogem do campo político. Tentei também perguntar a outras mulheres e sinceramente não tive nenhuma resposta que me convencesse que estas teriam alguma pista sobre a verdadeira origem.
Que existem nos quadros do governo nomes de extrema competência e com maior exposição e até carisma, não tanto quanto o Metalúrgico, é inegável. Que havia nomes que além de competentes dariam menos trabalho para se propagandizar, também é verdade. Afinal por que escolher um nome que, apesar de sua comprovada competência, está dando um trabalho danado para se tornar popular ?
Para não perder uma oportunidade histórica de quebrar um paradigma. Esta é a única resposta que me ocorre. Não de quebar um paradigma, mas vários. E é este exercício de reflexão e atitude que Lula está obrigando a toda nação a fazer.
Temos de ter em mente que estivemos muito tempo vivendo uma mentira, vivendo na ilha da fantasia do neoliberalismo, onde a riqueza das nações nascia do nada, como se isto fosse possível. Temos que ter em mente que nem os construtores desta grande mentira, ou miragem diriam alguns mais contritos, tinham memória suficiente para sustentá-la durante tanto tempo, tampouco as nações poderiam sustentá-la sem corroer os fundamentos de suas economias. Tem até uma frase de Lincoln que diz que "nenhum mentiroso tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso de êxito". Estes últimos oito anos foram suficientes para mudar os fundamentos da economia, ou melhor, para reforçá-los, e então expor a mentira neo-boba, como dizia o ex, o sociólogo. Foram suficientes estes oito anos para por a casa em ordem em termos materiais. Mas foram suficientes para resgatar a nossa auto-estima na medida do necessário à aspiração a um futuro mais digno, do que daqueles subservientes lacaios de colarinho branco ?
Para tanto será necessário uma quebra de paradigmas em larga escala. Para tanto temos que olhar para dentro da alma do povo e de lá extirpar valores arcaicos e provincianos. Ser comandado por uma mulher: veja como soa esta frase no inconsciente coletivo. Não tenhamos dúvida que na maioria dos inconscientes soa como captulação, soa como uma derrota.
Ao quebrarmos o paradigma de comando apenas masculino estaremos abrindo espaço para outros avanços e acelerando a evolução para estágios mais maduros de socialização.
Entendo também que a Dona Dilma traz consigo ainda um ícone insuplantável, incômodo para muitos ainda.
Mas é esta mesma semiologia do valente, do intrépido, do rigoroso, que a faz transitar desde a rejeição até a liderança combativa; retira-se o complexo de Amélia e se entroniza Joana D´Arc na alma dos brasileiros.
Lula, que mais do que Presidente foi o nervo exposto da grande massa de excluídos, soube, por que lá vivia, fazer nascer de dentro da alma a aspiração e a fé num futuro mais digno para os seus descendentes, outrora inexoravelmente condenados à exclusão, à miséria, à fome, à marginalidade, ao sub-emprego.
Desta brutal sensibilidade soube captar, ou construir, um símbolo que jamais se tentou ver; que Gilberto Freire tentara em vão.
Mas não basta esta visão profética, não basta esta sensibilidade extremada, se não tivermos a capacidade de convivência com os diferentes. Convivência interna e externa. Convivência com nossos vizinhos andinos e platinos. Temos de dar uma lição de evolução e de democracia, que tanto faltou na nossa história. Mas então repito uma frase que João Paulo II disse em Vitória: "A democracia precisa da virtude, se não quiser ir contra tudo o que pretende defender e estimular".
Se Lula enxergou em Dilma uma virtude, pois ela nãopoderá ter todas, esta foi a da coragem e da honestidade de propósito.
Pois vamos concluindo perguntar: - Alguém pensou que algum dia teríamos uma mulher Presidente da República ? Nem Gilberto Freire.

Saindo do impasse

Passada a reunião do G20, onde grandes produtores de bens manufaturados, não importa a sua situação fianceira, estão lambendo as feridas que causaram a eles mesmos; feridas estas que não mais cicratizam devido a uma simples razão: seus povos não estão mais se importando em crescer, pois já cresceram bastante. O conforto que seus Estados lhes proporcionaram parece que lhes tirou o ânimo de ir buscar novas conquistas. Acabaram deixando os chineses produzirem o que para estes sairia a preços irrisórios, não compensava o esforço de produção e muito menos o lucro exigido.
Que esta lição sirva para nós que estamos ingressando em um novo patamar de desenvolvimento. Que não caiamos no mesmo erro, a de importar e produzir fora, para que não tenhamos no futuro que recorrer ao expediente de ter que negociar a soberania da moeda, já que a da produção foi perdida.
Isto serve como um aviso e acho que devemos desencadear uma campanha que, mesmo parecendo chauvinista, é, e sempre será, salutar: dar preferência aos produtos brasileiros. Mesmo mais caros? Alguém diria. Sim, mesmo mais caros, caso contrário ao da postergação da compra.
Não consigo ver sem me irritar, nas prateleiras de supermercados, produtos absolutamente simples de serem fabricados, serem importados devido ao baixo preço propiciado pelo subsidio no país de origem. Quando se trata de origem de países do Mercosul, ainda conseguimos compensações. Mas há casos extremos: conservas vindas da China, confecções vindas da Ásia, de várias origens, manufaturados simples. O que falta para poderem ser produzidos a baixo custo no Basil?
Diminuir a carga fiscal? Sim. Diminuir a burocracia das agências de fomento governamentais? Também. Repito então Maria da Conceição Tavares: temos de consertar o rumo de dirigentes que tem o coração à esquerda e a cabeça à direita. Ainda pensam neoliberalmente, pois ainda se pautam por valores ultrapassados forjados na academia do 80. Tem sua formação defeituosa à atrapalhar a ação do presente. Novos valores culturais terão de substituir as desgastadas fórmulas paridas, sabe-se lá se não em Chicago. Há de se rever, não os fundamentos, mas este verniz já gasto de um neoliberalismo morto. Exige-se uma revolução epistemológica, revolução esta que o Metalúrgico iniciou.
Comecemos conosco mesmo; evitemos o importado suplérfuo. Aliás, não era nem para ser importado. Melhoremos nosso comportamento produtivo. Retomemos o esforço que ja´fizemos no passado de banir o desperdício; seja no consumo, seja no processo produtivo. Longos períodos de inflação nos fizeram desaprender as regras básicas de produtividade. Aliás, perdemos até as indústrias, no louco frenesí neoliberal e na voraz política dos juros impagáveis.
Se Dilma nos eleva a esperança, cabe então cobrar e sugerir por todos os meios, a valorização de nossos produtos, etendendo por valorização o estímulo a capacidade produtiva. Podemos exportar commodities sim, podemos ter agro-negócio sim, mas não podemos abrir mão da industrialização.
Sou profissionalmente oriundo da área técnica eletrônica, e ainda me lembro de ter projetado nos anos 60, e produzido também, equipamentos avançados de telecomunicações e eletrônicos em geral. Lembro-me de uma indústria metal-mecânica pujante. Se a globalização as sucateou todas, é chegado o momento de resgatá-las, até para justificar a formação e emprego de técnicos e engenheiros. Recuperamos a indústria naval, temos de recuperar as demais de menor compexidade, mas que empregam grande contingente de mão-de-obra, crescendo então o mercado interno.
Temos de tomar um rumo agora, já. Seja através de controle de capitais, seja pela premiação da produção, seja por ambas, seja como for, temso que tomar atitudes urgentes. Temos que sair do impasse não criado por nós, paciência, mas temos que sair já.
Pelo menos para não fazer coro de lamúrias junto aos G20.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mayara Petruso

Após período de defeito de acesso ao blog volto a escrever, sendo que agora não mais preso a promessa de me ater à política, e mais precisamente as eleições. Mas não posso deixar passar a oportunidade para falar de um fenômeno que me incomoda assaz: - a onda raivosa deflagrada contra nordestinos que desaguou no triste episódio da estudante de direito (Mayara Petruso) que, além de instigar o ódio, incitou ao crime inclusive.
Quando ocorre um caso como este, vemos que estamos observando a parte visível do iceberg. Este fenômeno não nasce no vazio; é preciso que haja uma acumulação de energia, negativa no caso, até chegar ao ponto que chegou. E é esta parte que incomoda, por saber que há mais de setenta anos, no "putch" de Munich, não haviam criado as câmaras de gás, mas já haviam criado as condições que levariam a um final desgraçado.
De todas as misérias, de todas as desgraças e feridas desta eleição o que irá deixar sequelas será o que fizeram com esta moça: levá-la a este nível de degradação moral, tê-la transformado em uma verdadeira nazista. Outros jovens não estarão igualmente contaminados com este vírus de ódio?
A luta política seguirá seu curso, muitas besteiras ditas sobre Dilma já estarão esquecidas, mas o que será destes jovens que se contaminaram ?
Por este motivo vejo que não podemos descansar e manter acesa a chama que iluminará os caminhos que nossos jovens terão de trilhar. Temos obrigação moral, sejamos os vencedores, sejamos os derrotados, de corrigir os erros deste triste episódio, onde se permitiu tanta baixaria e se destilou tanto ódio.
Responsabilizo o sistema Globo de comunicação por este episódio, pois poderia perfeitamente tomar partido sem degradar tanto. Responsabilizo a Folha, a Abril por também não terem respeitado seus leitores que o apoiavam. Não fosse o baixo nível do que escreveram e disseminaram talvez esta jovem não tivesse chegado ao ponto degradante em que chegou.
Responsabilizo aqueles que, dentro destas organizações, perceberam o erro e se mantiveram calados, coniventes e lenientes, mesmo defendendo seus empregos.
Esta moça Mayara Petruso é e sempre será um exemplo do que se colhe quando se planta o ódio. Perguntem aos alemães de hoje o que sentem quando se lembram do que fizeram seus pais e seus avós há setenta anos, senão um misto de vergonha e arrependimento.
Que Mayara Petruso seja sempre lembrada por aqueles que amam a liberdade e a democracia, por aqueles que respeitam a juventude, por aqueles que sonham com um futuro melhor para as futuras gerações.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Observando números e pessoas

Desde a última menção à opção, que me dedico tão somente a acompanhar a evolução do eleitorado do Rio de Janeiro. Não através de pesquisas, estas têm suas metodologias bem definidas e se errarem fazem fiasco. A minha observação se baseia na metodologia do contacto. Contacto na saída da Central do Brasil, nas saídas do Metrô, nas conversas do cotidiano, com os mais representativos da pirâmide social.

Não tenho dúvida que na área metropolitana do Rio de Janeiro, a população já tem perfeitamente definida a sua opção, pois nem 10% engordam os brancos declarados e nulos atropelados nas pesquisas formais. Mas uma coisa está absolutamente evidentemente revelada; o povo aparentemente mais humilde percebeu perfeitamente os estratagemas desengonçados da mídia acabrestada. Ou por racionalidade explícita, ou por saturação, já que nem mesmo os adeptos serristas não acreditam na maior parte do que é veiculado; sua opção é visceral, nasce da rejeição e não de apoio a um ideário. É contra e pronto, faz até lembrar um mote dos anos 50: hay gobierno soy contra. Revelando um primarismo que, aos poucos, vamos nos despedindo.
A rejeição, tanto a Dilma, quanto a Serra se dá por razões onde está rarefeita a racionalidade. Mas lamentavelmente a nossa mídia insiste em não ver ou, por teimosia ou desespero, acha que esta estratégia ainda dará resultado.

Hoje, distando três dias das eleições, temos claramente a noção do que ocorreu nestes últimos meses: algo como escuma virá à tona. E que vai dar muito trabalho para as auditorias. Pois sabemos que muito dinheiro federal para municípios foi desviado. E não me venham com anti-petismos, pois as verbas foram religiosamente distribuídas. Sabemos que Lula é, e foi, tolerante, mas Dilma, sabemos também, irá cobrar. Daí tanta choradeira e tanto desespero.

Some-se a isto a voracidade sobre o Pré-sal, que antes não acreditavam ser possível explorar, e aí teremos a receita desta azeda sopa neo-liberal (aliás, neo-boba, como dizia o engraçado FHC).

Não há muito mais a se dizer, já que Marina sutilmente induziu seu voto, já que não pode, por razões políticas e éticas, trocá-lo por cargos, e também isto não desejava. Sua missão foi cumprida: vendeu caro a sua posição, valorizando-a para futura negociação. Induzindo seu voto praticamente destina a maior parte de seu ativo eleitoral para sua ex-colega de governo. No entanto não a maioria como gostaria, pois muitos de seus votos vieram de rejeição, tanto a Dilma quanto a Serra. E ela Marina sabe muito bem disto, e disto se valeu.

Vejamos como se compõe, segundo minhas observações, o quadro atual:

eleitores %

Herança Plínio e Brancos e

de Marina Esquerdas Indecisos Nulos Geral Válidos

DILMA

ROUSSEFF 47.651.434 0,469 15% 100% 25% 18,00% 54.276.242 53,4% 57,4%

JOSÉ

SERRA 33.132.283 0,326 20% 0% 28% 30,00% 40.269.804 39,6% 42,6%

MARINA 19.636.359 0,193 94.546.045

================================================================= 101.590.153

Plínio e Esquerdas 1.170.077

Indecisos 7.111.311 0,07

Brancos e Nulos 4.063.606 0,04



Esta é uma contribuição, ou um bom palpite. Vejamos o quanto o erro aí embutido é menor do que os métodos tradicionais.
O que vale mesmo é não retornarmos aos tempos neo-bobos.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Uma grande opção

Realmente, para considerarmos uma opção nesta eleição presidencial, teremos que ver que, qualquer que seja o direcionamento do voto que queiramos dar, se considerarmos os interesses nacionais, teremos apenas uma opção; senão vejamos.

Pensando no interesse do Patrimônio Brasileiro, e principalmente no Pré-sal, que está sendo vorazmente desejado por outros que não nós brasileiros, só temos uma escolha: entre a manutenção deste enorme ativo ou a pseudo-moderna doação para outros povos.

Pensando na governabilidade, temos um Parlamento com maioria nas duas Câmaras já definida nas últimas eleições. O Governo que se opuser a esta maioria não dará um passo e correrá enormes riscos.

Quanto à tão propalada moralidade, aí é que não podemos ver opções mesmo, pois se atentarmos para o escarcéu promovido pela imprensa não podemos discernir, pois se omite remessa de dinheiro para paraísos fiscais, concorrências viciadas na compra de ambulâncias, obras superfaturadas e por aí vai.

O que sobra mesmo é a comparação de resultados, são fatos.
-Um quebrou o País mais de uma vez, o outro gerou o maior superavit da história.
-Um parou o desenvolvimento, ou outro fez crescer 7% o PIB.
-Um deixou queimar a Amazônia irresponsavelmente, o outro reduziu 47% das queimadas.
-Um deixou a Segurança Pública à revelia, o outro promoveu a moralização e modernização das Forças de Segurança nos Estados, tendo o Rio de Janeiro como exemplo máximo.
-Um gerou desemprego em massa, o outro gerou milhões de empregos com carteira assinada.
-Um não acreditou no Pré-Sal, ou lá o deixou escondidinho para servir à rapina. O outro o desenvolveu e devolveu para o Estado Brasileiro.

Para quem se considera brasileiro de verdade não há opção. Para o estrangeiro bom observador, como tem mostrado a imprensa internacional (The Economist, Le Monde, La Prensa, Times e outros) não resta dúvida.

Então, o caráter plebiscitário, que alguns queriam evitar, agora retorna com força esmagadora.
Independentemente das opções da terceira colocada, podendo reverter o quadro, parece-me que uma boa parte de seus votos não irão para lugar nenhum senão engrossar o grande volume de brancos.
Mesmo com a enorme campanha desmoralizante que se moveu na imprensa, de forma abjeta, fato reconhecido até pelos seus seguidores, há de se galgar vinte milhões de votos em meio a uma rejeição imensa. Os brasileiros terão uma mínima chance em meio a maldade, mas terão. É o quanto basta para não confundirmos as opções.
Estando a dezoito dias da eleição, quase três semanas, ainda temos de ter paciência para assistir ao desfile de escândalos e "trololós" fabricados às pressas. Mas, faz parte deste jogo não muito evoluido.
A opção única já existe; cabe então à cada brasileiro que mereça este nome fazer valer os interesses nacionais.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A grande opção

Sabemos que existem muitos coniventes com a entrega do patromônio público, isto é, do Povo Brasileiro, escondidos atraz de máscaras que se apresentam como isentas nestas eleições. Basta ver os jornais que não tiveram a decência de se declarar. Sabemos também que existem aqueles oportunistas, qual infecção, que se aproveitam de fraquezas; de quem quer que seja, não fazem distinção de lado, nem de ideologia, nem de opinião. Estão aí apenas para se aproveitar, qual vírus, já que não têm capacidade de construir idéias próprias. Isto é uma característica do ser humano; capaz de grandezas quase divinas e baixezas quase diabólicas, ambas germinadas dentro do próprio ser.
No entanto esta forma de eleição em dois turnos acabou por ser valorosa e simbolicamente educativa. Olhem o que teremos de avaliar agora:

- A maioria do Congresso, Câmara e Senado, acompanhou o voto de Dilma. O Brasil ficaria ingovernável caso esta maioria imensa virasse oposição.

- Os Governadores dos Estados populosos São Paulo e Minas Gerais, neste caso teriam de ser fiadores do poder central, fraco e sem apoio do Congresso. Suas forças se esgotariam rapidamente.

- A maioria dos Estados seriam Governos também de oposição.

Vejam então o "imbroglio" em que nos meteríamos: sem governabilidade e ainda por cima tendo que praticar uma agenda neo-liberal que está em decadência no mundo todo.

É obvio que ninguém deseja isto para o país e muito menos para os seus filhos.

Realmente, Deus nos ensina na adversidade e quando coloca pedras no nosso caminho, não é para que as vejamos (as pedras somente), é para que possamos caminhar com segurança. Eis uma grande e insubstituível lição. Não tem nada de sapato alto nem nada, é simplesmente uma lição coletiva que também faltava a futura Presidenta: - os anjos e demônios habitam no meio de nós. Cabe pedir ajuda ao Senhor para que possamos discernir e conhecer que caminho tomar.
Mas agora poderemos ver as verdadeiras faces de todos (todos) aqueles que se esconderam sob, ou a inocência dos justos, ou a maledicência dos incapazes. Sempre teremos nas nossas vidas momentos onde teremos que optar entre o bem e o mal, mesmo sem saber ao certo qual sendo os dois, saberemos que a escolha certa somente ocorre com auxílio d´Ele.
Não posso deixar de ver que, agora que acabou o vinho da festa do primeiro turno, só podemos esperar que da água limpa se faça um bom vinho no segundo. Refresco a memória em João 2:10:" Todo o homem põe primeiro o vinho bom, e quando já tem bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho".
Observem o que virá para o final, o melhor vinho. Observem quem virá para falar. Esta escrito: Provérbios 31:9; " "Abre a tua boca; julga retamente; e faze justiça aos pobres e aos necessitados".
Em tudo está a obra suprema, em cada minuto. Não há mais como se esconder; temos que optar ou pelos pobres ou pelos ricos. Cabe a cada um decidir.
E é esta opção que se apresenta, não há como fugir dela. Não dá para se esconder atraz de um terceiro, só existem dois. E todo brasileiro, por mais humilde ou douto que seja, sabe muito bem o que cada um significa para a redenção dos pobres e necessitados. Agora temos que prestar conta à nossa propria consciência.



terça-feira, 5 de outubro de 2010

UPPs dilma vez para sempre.

Como as eleições não acabaram no Brasil, ainda tenho de seguir neste assunto apenas, conforme prometido. No entanto aqui no Rio de Janeiro, o nosso Governador obteve aprovação já que suas políticas sociais deram resultado mesmo. Uma delas, a da Segurança, me obriga a reconhecer que ainda será um ponto forte em campanha porque é uma conquista que não pode ser perdida e sequer ser comparada com práticas de antanho, onde a violência pura e simples servia de doutrina, coisa herdada dos tempos idos.
A importância social das UPP transcende a mera concepção de policiamento. Não é apenas uma simplificação de ficar no local. Há de se ver em que local, pois a escolha deste local , além da prévia escolha tática operacional, é uma opção política, é uma opção ética e dela derivam outros conceitos mais profundos. Tenho que testemunhar como morador próximo a uma UPP: a manutenção da segurança permitiu uma inclusão social antes sequer imaginada, muito menos desejada pela maior parte da população. Hoje, subir o morro, é um ato normal e uma alavanca para integração social; mas a pacificação ainda terá de ocorrer dentro da alma dos próprios cidadãos que ainda a confundem como uma ação com cunho eleitoral, ou melhor, eleitoreiro.
Da pacificação irão derivar outras ações, já que o Estado passa a poder estar presente, e deve estar presente; com educação de qualidade, com assitência social, com UPA´s próximas e todos os demais serviços que compõem a dívida social enorme que herdamos de décadas de preconceito e demagogia.
Nosso Governador soube, mais do que interpretar uma necessidade, se comprometer como homem público. Não poupou recursos e não fez apenas das UPP uma única plataforma, pois fez chegar as UPA´s. O que ainda falta é ter uma educação de qualidade, com horário integral, dando espaço para ensino de artes, de laborátorios químicos, de física, ou meramente para poder ler numa biblioteca. Isto também faz parte da dívida social, e é esta educação que irá nos promover a candidatos a primeiro mundo.
Este desafio do Estado, somente será realizado se apoiado pelo Governo Federal, de tão concentrado estão os recursos. Herança de concentração de poder que ainda é precisamos corrigir.
Há de se vencer este desafio, e que seja rápido, pois um Estado cuja capital vai sediar os Jogos Olímpicos em 2016, ou seja já já, não pode mostrar uma mancha social desta dimensão. Se retroagirmos ao passado será a demonstração tácita de incapacidade, incompetência, insensibilidade, insensatez e covardia.
Que o Governo Federal nos ajude a manter UPP´s, UPA´s e sobretudo a Soberania, dilma vez para sempre.


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Faire Cameron

Independentemente do que está por traz do voto verde, agora isto não interessa, existe uma notável lição aprendida e que não diminui em nada a capacidade de Dilma vencer as eleições. Pode continuar havendo baixaria, pode continuar a imprensa se degradando no sórdido mar de intrigas e mentiras, pode se imiscuir em uma série de componentes. Mas a marcha da história se manterá, é esperar pra ver. Não quero falar que haveria melhor resultado se, em lugar de Dilma, fosse este ou aquele candidato com maior histórico político-partidário. Não, qualquer um que ousasse manter o que Lula conquistou teria e terá o mesmo tratamento; afinal o butim desta guerra é por todos conhecido, chama-se pré-sal. Além desta "pièce de résistence" traz o menu um farto conjunto de riquezas que não tem número que as represente; todas elas regadas à vasta insolação e vastos mananciais de água. O Brasil habita uma área altamente ensolarada, aguada e fértil; não precisa dizer o valor disto tudo. É uma verdadeira colméia. Portanto qualquer que seja aquele representante do Estado Brasileiro que tente se apossar destas doces riquezas imensas será tratado com rigor e surrado até a morte. Os jornais já foram contratados para esta tarefa.
Ocorre que existem defensores desta colméia e eles são aguerridos; não vão deixar sair barato. A Petrobrás por um triz já ia indo embora, como foi a VALE, isto é, de graça. Quem lutou para que este patrimônio não fosse perdido ? Portanto, agora que existe maioria no Congresso, teremos que terminar a obra começada. Em meio à toda sorte de acusações e covardias ? Sim. Em meio a toda sorte de intromissões judiciais absolutamente inconstitucionais? Sim. Repetindo palavras de um conhecido comentarista raivoso: - há de se travar uma guerra sem trégua. Caso contrário...
Não há do que reclamar...Agora entendo o Prof. Gilson Carone (ler www.cartamaior.com.br)
Não há do que reclamar, pois sobre certos aspectos há até uma vantagem: as traíras vão ter que botar a cabeça pra fora...
Vou repetir um lema da Legion Étrangère: "Faire Camerone"! Os que me entenderem se preparem.