domingo, 21 de novembro de 2010

Será que vai dar tempo?

Até já entendo o que move a mídia a ainda manter o baixo nível que utilizou na campanha eleitoral: -"Temos de começar cedo, para que em 2014 não venhamos a morrer de vez".
Está mais do que óbvia a motivação, por não conseguir compreender a absoluta defasagem com os novos tempos. É como se um senhor de engenho aceitasse a formação universitária de um escravo; está absolutamente fora de sua capacidade de reflexão e sentimento. Assim está a nossa (fico até envergonhado de utilizar este pronome, mas é a verdade) imprensa, escrita, falada, televisada: absolutamente decadente, desmoralizada. Perdeu a vergonha.
Mas, como a grande massa já percebeu do que se trata, mesmo não podendo ou sabendo verbalizar, pois percebo no diálogo que mantenho todo dia pela manhã com trabalhadores, passageiros desembarcados na Central do Brasil (principal terminal ferroviário no Rio de Janeiro), cada vez mais fica a imprensa legada a cobrir crimes e assaltos e as novidades do futebol, e mostrar fotos de mulheres seminuas. Se restringe a esta pauta somente. O veneno que destila fica reservado aos lídimos representantes de uma classe social já perdida em seus conceitos de falsa moralidade e pobre de cultura; pobres pé-de-chinelo que ainda se vêem como protegidos do rei, nada mais do que neo-bobos, como bem disse o FHC, o ex, o sociólogo.
Porém ainda percebo, à direita e à esquerda também, discursos de deslumbrados com a velha cultura euro-cêntrica, que não atinaram com a quebra de paradígma: o Estado do povo, para o povo, não mais para os barões.
Não acredito que vão perceber esta mudança com facilidade; afinal foram séculos de domínio do Estado. Utilizarão esta mídia moralmente empobrecida sim, enquanto sobreviver, (pois esta vive de anunciantes que querem ter sua marca associada a casos de sucesso), o recurso da intriga e da mentira. Mas a decorrada é inevitável, à menos que acordem à tempo. Que andem rápido então, pois o novo Governo e os novos tempos serão implacáveis.
Dado ao estado de decadência moral em que se encontram pergunto: Será que vai dar tempo?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Nem Gilberto Freire, reedição

Nem Gilberto Freire, reedição

Tive que rever o texto publicado em março deste ano para poder re-refletir sobre o previsto e o ocorrido, passadas as eleições. Vale, para mim mesmo, uma releitura, uma nova visão. Eis o texto passado:...

Por que Lula escolheu uma mulher para lhe suceder ? Esta pergunta que fiz a mim mesmo, tenta encontrar algumas respostas e quase todas as tentativas fogem do campo político. Tentei também perguntar a outras mulheres e sinceramente não tive nenhuma resposta que me convencesse que estas teriam alguma pista sobre a verdadeira origem.
Que existem nos quadros do governo nomes de extrema competência e com maior exposição e até carisma, não tanto quanto o Metalúrgico, é inegável. Que havia nomes que além de competentes dariam menos trabalho para se propagandizar, também é verdade. Afinal por que escolher um nome que, apesar de sua comprovada competência, está dando um trabalho danado para se tornar popular ?
Para não perder uma oportunidade histórica de quebrar um paradigma. Esta é a única resposta que me ocorre. Não de quebar um paradigma, mas vários. E é este exercício de reflexão e atitude que Lula está obrigando a toda nação a fazer.
Temos de ter em mente que estivemos muito tempo vivendo uma mentira, vivendo na ilha da fantasia do neoliberalismo, onde a riqueza das nações nascia do nada, como se isto fosse possível. Temos que ter em mente que nem os construtores desta grande mentira, ou miragem diriam alguns mais contritos, tinham memória suficiente para sustentá-la durante tanto tempo, tampouco as nações poderiam sustentá-la sem corroer os fundamentos de suas economias. Tem até uma frase de Lincoln que diz que "nenhum mentiroso tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso de êxito". Estes últimos oito anos foram suficientes para mudar os fundamentos da economia, ou melhor, para reforçá-los, e então expor a mentira neo-boba, como dizia o ex, o sociólogo. Foram suficientes estes oito anos para por a casa em ordem em termos materiais. Mas foram suficientes para resgatar a nossa auto-estima na medida do necessário à aspiração a um futuro mais digno, do que daqueles subservientes lacaios de colarinho branco ?
Para tanto será necessário uma quebra de paradigmas em larga escala. Para tanto temos que olhar para dentro da alma do povo e de lá extirpar valores arcaicos e provincianos. Ser comandado por uma mulher: veja como soa esta frase no inconsciente coletivo. Não tenhamos dúvida que na maioria dos inconscientes soa como captulação, soa como uma derrota.
Ao quebrarmos o paradigma de comando apenas masculino estaremos abrindo espaço para outros avanços e acelerando a evolução para estágios mais maduros de socialização.
Entendo também que a Dona Dilma traz consigo ainda um ícone insuplantável, incômodo para muitos ainda.
Mas é esta mesma semiologia do valente, do intrépido, do rigoroso, que a faz transitar desde a rejeição até a liderança combativa; retira-se o complexo de Amélia e se entroniza Joana D´Arc na alma dos brasileiros.
Lula, que mais do que Presidente foi o nervo exposto da grande massa de excluídos, soube, por que lá vivia, fazer nascer de dentro da alma a aspiração e a fé num futuro mais digno para os seus descendentes, outrora inexoravelmente condenados à exclusão, à miséria, à fome, à marginalidade, ao sub-emprego.
Desta brutal sensibilidade soube captar, ou construir, um símbolo que jamais se tentou ver; que Gilberto Freire tentara em vão.
Mas não basta esta visão profética, não basta esta sensibilidade extremada, se não tivermos a capacidade de convivência com os diferentes. Convivência interna e externa. Convivência com nossos vizinhos andinos e platinos. Temos de dar uma lição de evolução e de democracia, que tanto faltou na nossa história. Mas então repito uma frase que João Paulo II disse em Vitória: "A democracia precisa da virtude, se não quiser ir contra tudo o que pretende defender e estimular".
Se Lula enxergou em Dilma uma virtude, pois ela nãopoderá ter todas, esta foi a da coragem e da honestidade de propósito.
Pois vamos concluindo perguntar: - Alguém pensou que algum dia teríamos uma mulher Presidente da República ? Nem Gilberto Freire.

Saindo do impasse

Passada a reunião do G20, onde grandes produtores de bens manufaturados, não importa a sua situação fianceira, estão lambendo as feridas que causaram a eles mesmos; feridas estas que não mais cicratizam devido a uma simples razão: seus povos não estão mais se importando em crescer, pois já cresceram bastante. O conforto que seus Estados lhes proporcionaram parece que lhes tirou o ânimo de ir buscar novas conquistas. Acabaram deixando os chineses produzirem o que para estes sairia a preços irrisórios, não compensava o esforço de produção e muito menos o lucro exigido.
Que esta lição sirva para nós que estamos ingressando em um novo patamar de desenvolvimento. Que não caiamos no mesmo erro, a de importar e produzir fora, para que não tenhamos no futuro que recorrer ao expediente de ter que negociar a soberania da moeda, já que a da produção foi perdida.
Isto serve como um aviso e acho que devemos desencadear uma campanha que, mesmo parecendo chauvinista, é, e sempre será, salutar: dar preferência aos produtos brasileiros. Mesmo mais caros? Alguém diria. Sim, mesmo mais caros, caso contrário ao da postergação da compra.
Não consigo ver sem me irritar, nas prateleiras de supermercados, produtos absolutamente simples de serem fabricados, serem importados devido ao baixo preço propiciado pelo subsidio no país de origem. Quando se trata de origem de países do Mercosul, ainda conseguimos compensações. Mas há casos extremos: conservas vindas da China, confecções vindas da Ásia, de várias origens, manufaturados simples. O que falta para poderem ser produzidos a baixo custo no Basil?
Diminuir a carga fiscal? Sim. Diminuir a burocracia das agências de fomento governamentais? Também. Repito então Maria da Conceição Tavares: temos de consertar o rumo de dirigentes que tem o coração à esquerda e a cabeça à direita. Ainda pensam neoliberalmente, pois ainda se pautam por valores ultrapassados forjados na academia do 80. Tem sua formação defeituosa à atrapalhar a ação do presente. Novos valores culturais terão de substituir as desgastadas fórmulas paridas, sabe-se lá se não em Chicago. Há de se rever, não os fundamentos, mas este verniz já gasto de um neoliberalismo morto. Exige-se uma revolução epistemológica, revolução esta que o Metalúrgico iniciou.
Comecemos conosco mesmo; evitemos o importado suplérfuo. Aliás, não era nem para ser importado. Melhoremos nosso comportamento produtivo. Retomemos o esforço que ja´fizemos no passado de banir o desperdício; seja no consumo, seja no processo produtivo. Longos períodos de inflação nos fizeram desaprender as regras básicas de produtividade. Aliás, perdemos até as indústrias, no louco frenesí neoliberal e na voraz política dos juros impagáveis.
Se Dilma nos eleva a esperança, cabe então cobrar e sugerir por todos os meios, a valorização de nossos produtos, etendendo por valorização o estímulo a capacidade produtiva. Podemos exportar commodities sim, podemos ter agro-negócio sim, mas não podemos abrir mão da industrialização.
Sou profissionalmente oriundo da área técnica eletrônica, e ainda me lembro de ter projetado nos anos 60, e produzido também, equipamentos avançados de telecomunicações e eletrônicos em geral. Lembro-me de uma indústria metal-mecânica pujante. Se a globalização as sucateou todas, é chegado o momento de resgatá-las, até para justificar a formação e emprego de técnicos e engenheiros. Recuperamos a indústria naval, temos de recuperar as demais de menor compexidade, mas que empregam grande contingente de mão-de-obra, crescendo então o mercado interno.
Temos de tomar um rumo agora, já. Seja através de controle de capitais, seja pela premiação da produção, seja por ambas, seja como for, temso que tomar atitudes urgentes. Temos que sair do impasse não criado por nós, paciência, mas temos que sair já.
Pelo menos para não fazer coro de lamúrias junto aos G20.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mayara Petruso

Após período de defeito de acesso ao blog volto a escrever, sendo que agora não mais preso a promessa de me ater à política, e mais precisamente as eleições. Mas não posso deixar passar a oportunidade para falar de um fenômeno que me incomoda assaz: - a onda raivosa deflagrada contra nordestinos que desaguou no triste episódio da estudante de direito (Mayara Petruso) que, além de instigar o ódio, incitou ao crime inclusive.
Quando ocorre um caso como este, vemos que estamos observando a parte visível do iceberg. Este fenômeno não nasce no vazio; é preciso que haja uma acumulação de energia, negativa no caso, até chegar ao ponto que chegou. E é esta parte que incomoda, por saber que há mais de setenta anos, no "putch" de Munich, não haviam criado as câmaras de gás, mas já haviam criado as condições que levariam a um final desgraçado.
De todas as misérias, de todas as desgraças e feridas desta eleição o que irá deixar sequelas será o que fizeram com esta moça: levá-la a este nível de degradação moral, tê-la transformado em uma verdadeira nazista. Outros jovens não estarão igualmente contaminados com este vírus de ódio?
A luta política seguirá seu curso, muitas besteiras ditas sobre Dilma já estarão esquecidas, mas o que será destes jovens que se contaminaram ?
Por este motivo vejo que não podemos descansar e manter acesa a chama que iluminará os caminhos que nossos jovens terão de trilhar. Temos obrigação moral, sejamos os vencedores, sejamos os derrotados, de corrigir os erros deste triste episódio, onde se permitiu tanta baixaria e se destilou tanto ódio.
Responsabilizo o sistema Globo de comunicação por este episódio, pois poderia perfeitamente tomar partido sem degradar tanto. Responsabilizo a Folha, a Abril por também não terem respeitado seus leitores que o apoiavam. Não fosse o baixo nível do que escreveram e disseminaram talvez esta jovem não tivesse chegado ao ponto degradante em que chegou.
Responsabilizo aqueles que, dentro destas organizações, perceberam o erro e se mantiveram calados, coniventes e lenientes, mesmo defendendo seus empregos.
Esta moça Mayara Petruso é e sempre será um exemplo do que se colhe quando se planta o ódio. Perguntem aos alemães de hoje o que sentem quando se lembram do que fizeram seus pais e seus avós há setenta anos, senão um misto de vergonha e arrependimento.
Que Mayara Petruso seja sempre lembrada por aqueles que amam a liberdade e a democracia, por aqueles que respeitam a juventude, por aqueles que sonham com um futuro melhor para as futuras gerações.