quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pão e Vida

Meus caros amigos, ontem após ver um programa de televisão, refleti sobre
a complexidade da natureza humana e fiquei realmente certo que jamais
poderemos ter um quadro completo da sua pisque de tão complexa que esta é,
e mesmo que não será por meios físicos que a entenderemos. Estou seguro
que sua complexidade mais do que a complexa cadeia neural explorada por
McCullock e Pitts não habita apenasse nela mesma. Terá de haver uma
essência que transcende o imediato do milhões de anos que ainda nos sobram
de vida na Terra. Nem quero agora tirar conclusões de natureza mística ou
religiosa.

Um ex-colega de bancos de colégio, como eu já passados nos seus sessenta
anos, já reformado, e que teve a mesma educação religiosa foi capaz de
justificar, não consigo reproduzir com que argumentos, a tortura e os atos
torpes de violência da ditadura militar. Argumentos aqueles que não podem
ser encontrados na doutrina e na orientação de nossas forças armadas. Como
então aquele indivíduo, que teve os mesmos princípios religiosos e
educacionais, chegou a este ponto ?
Eis uma questão que começo a ver que remete ao plano da Educação, pura e
simplesmente. Não lhe foi dado à época que éramos colegas de banco de
escola, tal como eu, oportunidade da crítica; não lhe foi dado
oportunidade da reflexão, do ruminar das idéias. Fomos treinados para
entender e aceitar as idéias da forma como nos eram ministradas. Sem
discussão, sem crítica e com eficiência na sua reprodução. Me refiro a
entender e aceitar idéias também ao entendimento do que nos cerca, da
nossa sociedade, do nosso país. E meus amigos convenhamos, entender o
Brasil e a sua sociedade não é coisa tão simples. Há muito que esta tarefa
foi negligenciada e legada aos brasilianistas, devido a nossa preguiça
intelectual e falta de impulso crítico, para decompor o emaranhado das
linhas de força que compõem qualquer sociedade civilizada. Fica mais fácil
aceitar o imaginário do que o real. Repito as palavras de um cientista
político cujo nome agora me falta:

"O Brasil real é complexo, pleno de deficiências e de linhas de força, não
está representado na rede para-ideológica de informação, tomada de assalto
pelo brasilianismo. O brasilianismo é a doença infantil da ditadura da
opinião. De onde se
segue a divergência entre o que ocorre no país e o que pensam sobre ele
aqueles que se imaginam educados. Para estes, a educação não vale coisa
alguma".

Realmente só posso creditar ao domínio da opinião, a capitulação da
independência do pensamento, a justificativa daquele meu ex-colega de
banco de escola. Não posso lhe dar o benefício da ignorância, quando
muitas vidas foram ceifadas e muitos foram brutalizados, mas faço um
enorme esforço intelectual para explicar o que passaria na mente deste ser
humano. Inculcaram-lhe o ódio e o cegaram.

Hoje posso ver com alguma clareza a origem do ódio que transborda desses
mal informados, mal educados, mas donos de diplomas universitários
intocáveis, com vida pregressa limpa e sem mancha. Realmente sem mancha,
apenas vazia. Realmente vejo a miopia diante de fatos óbvios, como o
benefício de dar comida ao pobre. Ato que é bom para todo mundo, (aliás,
alguém já O disse e pregava há uns dois mil anos ) seja do ponto de vista
econômico, seja do ponto de vista de saúde, seja do ponto de vista
produtivo. Mas não, o ódio impede de ver esta elementar realidade. A
ditadura de opinião taxa de "populismo" uma coisa que não passa de um
dever. Já ouvi dizer que "Bolsa Família" é demagogia. Para quem tem a
barriga cheia e se acha incólume ao infortúnio, é fácil impor tais idéias.
Mas a verdade sobreviverá, os pães vão se multiplicar. è assim que seremos
salvos. ...À propósito, Deus já nos deu até o gas que faltava para assá-los.

Dominado ou dominador

A dominação degrada o escravo e degenera o dominador. O dominador se degenera pelo poder, pelo
luxo e pelo fausto que o poder propicia. O dominador que espolia acaba por legar à suas gerações a
fraqueza e a preguiça. E alguns que viveram no fausto têm a triste sina de ver sua geração no opróbrio.
Minha idade me permite dizer que já conheci pessoalmente vários deles; conheci na infância os avós e
bisavós daqueles que hoje sobrevivem pelo óbolo. Famílias que viviam na riqueza, com apego a
materialidade, hoje até se dissolveram.

Da história das pessoas se constrói a história das nações, isto é, das pessoas que a constroem. O
episódio do terceiro “reich” retrata fielmente a o comportamento daqueles que tiveram a dominação
como motivação de vida. Aliás, todos os países poderosos e herdeiros de impérios coloniais do século
dezenove, entraram em decadência. Mesmo a Inglaterra, “o império onde o sol nunca se punha”, nem
1
se parece com a “pompa e circunstância” de outrora. Pois perceberam que a escravização da China, da
Índia, do Paquistão fizeram-na parecer e se comportar como os corruptos mandarins e marajás que lhe
prestavam serviço. A Alemanha, apesar de ser pequena potência colonial, no século XIX, detinha
apenas a colônia do Togo, que perdeu na primeira guerra, sonhava com a dominação dos territórios
europeus da Silésia e dos Sudetos em geral, atual República Tcheca.

A França, que depois de perder a Indochina, em Dien Bien Fu, em 1953, teve a sorte de ter o comando
de um homem lúcido, valente e que jamais se vangloriou sobre oprimidos, e liberou a Argélia, contra a
vontade de compatriotas reacionários, que inclusive tentaram, debalde, assassiná-lo várias vezes; mas
como ele mesmo dizia estava sob a proteção Daquela, para quem orava em Colombey-le-deux-Èglises.
Esse crente e valente soldado, que experimentou a reclusão em campos de concentração, na primeira
guerra mundial e chegou a ser condenado à morte por seus próprios compatriotas, por manter sua
convicção e sua fé, não só libertou seu país como não deixou que se transformasse em um reduto de
saudosistas coloniais. A França abandonou toda e qualquer volição colonial desde 1958, graças à fé
daquele soldado que aprendeu, desde os bancos de colégio jesuíta, a ser devoto de Maria, o Grande
Charles DeGaulle.

Como vemos, a história sempre conta a verdade de quem procura a verdade. A verdade é que, não
importa de que lado estejamos, seja do dominado e mesmo do lado dominador, temos de procurar a
verdade e a vida. E o caminho para chegar a verdade e a vida não tem desvios, nem atalhos, por mais
que tentados sejamos a encurta-lo.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo, 14.6)

1 “Pompa e Circunstância” foi o nome da obra orquestral de Edward Willian Elgar, que bem descreveu a pompa do desfile

de “Pall Mall” para que a Rainha Vitória visse em Londres, tigres, elefantes, tribos zulus e todo o exótico império. Hoje,
“Land of Hope and Glory” , uma de suas marchas é tocada em cerimônias de casamento, para noivos deslumbrados que
não conhecem a origem da música.

A maldição do fausto

Quando ocorre a oportunidade de se falar e relembrar o holocausto dos judeus na época do terceiro
“reich”, nasce a pergunta nunca respondida plenamente: Por quê ?

Por que, uma nação que gerou Goethe, Beethoven, Kepler, Gauss haveria de se deixar levar por uma turba
de ensandecidos ?

Por que, uma nação que foi capaz de sobreviver a guerras e ocupações, reconstruindo-se frente à proibição
de se re-armar, por parte das nações vencedoras do conflito da primeira guerra mundial, chegou a tal ponto
de inconsciência e desatino ?

Por que foi mesmo um símbolo ? E chegou a ser admirada e copiada por alguns Estados, que não por
coincidência eram totalitários, governados por ditadores, sob qual se praticavam as mais torpes ações, de
tortura, de corrupção e toda a sorte de maldades. Aqui no Brasil, uma judia era deportada grávida para o
campo de concentração. A Argentina acabou acolhendo toda a sorte de carrascos et caterva. – não cito ex-
carrascos pois, carrasco morre com este nome e pelo meu credo será justiçado frente ao Pai.

Eu aqui com meus botões respondo o porquê. Porque gostavam do que faziam; não tenho a inocência nem
a ingenuidade de achar que foram enganados. É claro que existia uma grande parte de gente inocente e que
foi enganada mesmo, e outra parte que apenas podia se calar. Mas o grosso da plebe, tal como no circo
romano, clamava pela execução e pela morte, pura e simplesmente. E mesmo assim não se cala à
pergunta: por quê ?

E novamente busco uma resposta que, no mínimo, satisfaz a minha consciência: - Porque se satisfaziam
no sentimento de grandeza, se satisfaziam na crença da raça superior, se satisfaziam na vaidade de seus
feitos materiais. Só isso. Ainda se vê este comportamento hoje naqueles que detém o maior poder militar
do mundo, opróbrio da civilização. E quando se endeusam acabam por serem condenados. Quando o
“Deutschland uber alles” é aceito como forma de vida, até parece que o que irá resultar é uma absoluta
comunhão com seus pares e com seus diferentes. Mas quando o estrangeiro é renegado por este causa e,
diferente como está nas Escrituras quando o velho deu de comer ao forasteiro, e trouxe água para lhe lavar
os pés, então a maldição cairá sobre sua casa e seu país. Tivesse sido o lema “Got uber alles”, então este
povo seria glorificado e todos ficariam em paz.

As causas que levaram este povo a este desatino, ainda estão presentes em todos os povos e estas não se
exorcizam apenas com o discurso. Quem quiser se afastar desta maldição haverá sempre de passar por
uma porta estreita, pois por ela terão de passar todos os povos, os excluídos, os miseráveis, pois se nos
considerarmos melhor que esses, então a porta será larga e, facilmente, não importa nossas riquezas e
nossas habilidades, iremos passar sem saber para o vale das trevas.

Ah! vaidade, ah, orgulho aonde nos levam ? O próprio Fausto de Goethe diz n´um momento: “Detém-te ,
ó tu que és tão belo” .

Tivesse o povo alemão prestado mais atenção nas palavras que eles próprios disseram, tivessem sido
verdadeiros da boca pra dentro, então a “danação de Fausto” teria sido encenada como fábula e não teria
de ser vivida.

Paulo Nogueira Batista: Obrigado embaixador

Acabei de ler, devorar seria o termo mais correto, uma publicação da Fundação Alexandre de Gusmão do Itamaraty, denominada "Paulo Nogueira Batista: Pensando o Brasil". Creio que o termo mais acertado seria "...Pensando e sentindo o Brasil", tal o grau de envolvimento humano do saudoso embaixador. Sua visão clara e destituída de floreios, direta, mas sem perder a elegência, mostra sua capacidade de ver através do óbvio, que para muitos mortais é barreira intransponível. Ele não se afeta nem se abala com louros nem besouros. É direto e conciso em suas análises. Mas, sobretudo, independente e patriota.
A sua capacidade de antever fenômenos que ocorreriam muitos anos depois mostra a capacidade de se nortear em meio a tempestades ideológicas, em meio a fascínios passageiros, em meio ao efêmero.
Deixou seguidores importantíssimos: Samuel Pinheiro Guimarães, Celso Amorim, entre tantos outros e que são motivo de orgulho para o nosso País, ou melhor, para a Humanidade.
Estivesse o próprio Rio Branco vivo, tenho certeza, teria neste um par, tal a capacidade de entender o jogo internacional, as suas complexidades políticas, as suas componentes históricas.
Muito está o Brasil a dever a este Homem. O mínimo que poderia dizer como cidadão, era:
Obrigado Embaixador.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

JCarlos, para os íntimos

A identidade brasileira

Há muito vejo a enorme luta de um povo para adquirir a sua identidade. Aliás qualquer povo somente a conquista após um período onde terá de aceitar sua contradições, seus defeitos, suas virtudes, suas riquezas, sua pobreza, e também a de seu entorno. Falo do meu povo. E este povo que soma todas as suas idiossincrasias, mas também a de seus irmãos, a de seus vizinhos, em um dado momento terá de optar pela assunção desta identidade mista, a sua e um pouco de seus vizinhos, espelho de seus.interesses. Hoje presenciamos este momento. E esta assunção só foi conseguida pela aplicação do processo democrático. Tivesse se mantido as crenças neoliberais, tivesse se mantido a ultrajante perda de senso de soberania, tivessem permanecido no poder os cérebros lavados das elites pseudo-doutas, algumas com formação em Harvard, outras em Chicago, mas nenhuma delas independentes, e a miséria teria nos levado até o fundo poço. Aí então as consequências seria trágicas e violentas.
Não podemos deixar que se repita este ciclo da história. Que sirva de liçãoa crise. Que sirva de lição quão subalterno é o intelectual, do emocional, do cívico. Que a razão serve para por em prática nossos sonhos e os ditames de um caráter reto e limpo.
Que sejam banidos para sempre os escravos do luxo, os acólitos do dominador, os serviçais enfeitados. Que uma nova era que se inaugura seja duradoura e que sirva para, não apenas dar esperança a nossos filhos. Mas que seja natural para eles a Soberania, sem sentirem vergonha de serem tropicais. Que seja natural para eles aspirarem a uma Nacionalidade.