quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dominado ou dominador

A dominação degrada o escravo e degenera o dominador. O dominador se degenera pelo poder, pelo
luxo e pelo fausto que o poder propicia. O dominador que espolia acaba por legar à suas gerações a
fraqueza e a preguiça. E alguns que viveram no fausto têm a triste sina de ver sua geração no opróbrio.
Minha idade me permite dizer que já conheci pessoalmente vários deles; conheci na infância os avós e
bisavós daqueles que hoje sobrevivem pelo óbolo. Famílias que viviam na riqueza, com apego a
materialidade, hoje até se dissolveram.

Da história das pessoas se constrói a história das nações, isto é, das pessoas que a constroem. O
episódio do terceiro “reich” retrata fielmente a o comportamento daqueles que tiveram a dominação
como motivação de vida. Aliás, todos os países poderosos e herdeiros de impérios coloniais do século
dezenove, entraram em decadência. Mesmo a Inglaterra, “o império onde o sol nunca se punha”, nem
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se parece com a “pompa e circunstância” de outrora. Pois perceberam que a escravização da China, da
Índia, do Paquistão fizeram-na parecer e se comportar como os corruptos mandarins e marajás que lhe
prestavam serviço. A Alemanha, apesar de ser pequena potência colonial, no século XIX, detinha
apenas a colônia do Togo, que perdeu na primeira guerra, sonhava com a dominação dos territórios
europeus da Silésia e dos Sudetos em geral, atual República Tcheca.

A França, que depois de perder a Indochina, em Dien Bien Fu, em 1953, teve a sorte de ter o comando
de um homem lúcido, valente e que jamais se vangloriou sobre oprimidos, e liberou a Argélia, contra a
vontade de compatriotas reacionários, que inclusive tentaram, debalde, assassiná-lo várias vezes; mas
como ele mesmo dizia estava sob a proteção Daquela, para quem orava em Colombey-le-deux-Èglises.
Esse crente e valente soldado, que experimentou a reclusão em campos de concentração, na primeira
guerra mundial e chegou a ser condenado à morte por seus próprios compatriotas, por manter sua
convicção e sua fé, não só libertou seu país como não deixou que se transformasse em um reduto de
saudosistas coloniais. A França abandonou toda e qualquer volição colonial desde 1958, graças à fé
daquele soldado que aprendeu, desde os bancos de colégio jesuíta, a ser devoto de Maria, o Grande
Charles DeGaulle.

Como vemos, a história sempre conta a verdade de quem procura a verdade. A verdade é que, não
importa de que lado estejamos, seja do dominado e mesmo do lado dominador, temos de procurar a
verdade e a vida. E o caminho para chegar a verdade e a vida não tem desvios, nem atalhos, por mais
que tentados sejamos a encurta-lo.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo, 14.6)

1 “Pompa e Circunstância” foi o nome da obra orquestral de Edward Willian Elgar, que bem descreveu a pompa do desfile

de “Pall Mall” para que a Rainha Vitória visse em Londres, tigres, elefantes, tribos zulus e todo o exótico império. Hoje,
“Land of Hope and Glory” , uma de suas marchas é tocada em cerimônias de casamento, para noivos deslumbrados que
não conhecem a origem da música.

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